quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Homo natalensis I

Ainda que o homem tenha o poder de transformar o meio ambiente, o ser humano é o resultado do ambiente em que vive. Se derrubar uma arvore vai ter que aprender a conviver sem uma sombra, ou sem um abrigo para a chuva. Tudo depende da utilidade inicial da arvore e da utilidade que poderá ter em ser derrubada. A transformação do meio. O homem é um resultado dos seus atos, precisa se adaptar aos erros e acertos, de seus atos positivos ou negativos. O negativo pode não ser eterno, e o positivo pode ser temporário. O que é positivo para um pode ser negativo para outro e vice-versa.

Os atos e resultados são holísticos, interagem entre si. O homem é o resultado dos seus relacionamentos, das suas vivencias e convivências. Resultado daquilo que vive, com quem vive e convive; daquilo que come e consome; resultado do que não come e do que descarta. Resultado de seus alimentos e relacionamentos, que podem gerar boas e más relações, e com boas ou más digestões.

Consumir não é apenas um ato fisiológico e anatômico de ingestão, com mastigação e deglutição de produtos denominados e classificados de alimentos. Segundo a biologia, a anatomia e a fisiologia, os alimentos são ingeridos e processados. A visão do corpo como uma maquina. E deles, os alimentos, são extraídos as substancias necessárias para a sobrevivência do corpo físico e biológico. O que não é necessário a uma sobrevivência é descartado pelos sistemas de eliminação.

Mas consumimos muito mais que simples alimentos, sejam eles sólidos ou líquidos, necessários a uma sobrevivência celular. Consumimos de tudo que esta ao nosso redor. Desde o ar que respiramos a tudo que nos relacionamos. Consomem-se produtos orgânicos e inorgânicos, naturais e artificiais; vegetais, animais e minerais; elétricos e eletrônicos; produtos artesanais e industriais, produtos duráveis e não duráveis; perecíveis e não perecíveis. Gestos e indigestos. O ato de consumir denominado consumismo consome até bens móveis, imóveis e automóveis. Consomem-se técnicas, tecnologias e biologias, ideias e ideais. Consomem-se máquinas e ferramentas. Um vasto ferramental, com ferramentas de uso residencial, comercial e industrial; automobilístico, agrícola e administrativo. Ferramentas de controle e ferramentas de gestão. Consumir é absorver ideias. Uma autogestão de gerir e gerar comportamentos, para produzir conhecimentos.

E por fim consome-se o corpo, que se desgasta e se deteriora ao longo do tempo, com as intempéries dos tempos e dos relacionamentos. Deterioram-se as células ao longo dos tempos: com relacionamentos, alimentos e comportamentos. Ainda que o homem modifique o meio em que vive, o ser individualmente analisado pode sofrer mais e más influencias, do que ter um poder de modificação do espaço ao seu redor.
A geografia determina o momento de hoje e o que acontece hoje. A história é a descrição da geografia ao longo de uma linha de tempo. O ser humano é compreendido pela sua psicologia e pela sua sociologia. Analises ao longo de uma existência ou ao longo de uma história. À medida que o conhecimento evolui, podem ser geradas novas definições, com objetivos mais específicos de analisar um espaço e um momento. De uma tecnologia a uma nanotecnologia, de uma biologia a uma microbiologia. De uma botica doméstica com usos de produtos naturais a uma farmacologia industrial.

A cidade como uma organização geográfica do ser humano também é influenciada pelas ocupações, e desocupações; imigrações e emigrações ao longo de sua história. Uma cidade ainda pode alterar sua história por epidemias e infestações. Uma ocupação de um espaço por micro-organismos. A história construída por uma cidade sofre influencias do visível e do invisível, do concreto e do abstrato, do perceptível e do imperceptível. Influencias de histórias contadas e não contadas, escritas ao longo do tempo e esquecidas ao longo do tempo. Uma história contada e registrada, reconhecida e divulgada, admitida e ensinada provoca mais influencias em uma cidade, nos seres que ocupam o espaço de uma cidade.

A linha do tempo pode definir uma ocupação de um espaço, por descobridores, por colonizadores e por invasores; imigrantes, investidores ou turistas. Cada momento de um tempo um grupo ocupa o espaço geográfico e social da cidade de Natal. Grupos e pessoas constroem, destroem e reconstroem a história de Natal. Ao longo do tempo vão modificando a evolução e a construção do Homo natalensis.

Rio de Janeiro/RJ ─ 19/10/2014

                                                                   Artigo publicado


JORNAL DE HOJE
                                                                 Natal/RN 20/10/2014



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