Além
de 0,5 tons
Expedições
Literárias II
O projeto de Thiago Gonzaga,
descrito como Expedições Literárias[i], partiu prometendo levar
para Acari/RN novos tons, além dos tons tradicionais de cinza. Cinzas das
secas, cinzas das queimadas e cinzas da vida. Cinzas dos restos de vidas que
ainda persistem. Quem tem sede, tem muito mais pressa do que quem tem fome;
onde corre a água, corre a vida. E a sede do conhecimento é insaciável e persistente.
Foi com troncos de arvores
transformados em folhas de papel, que são uma mídia de suporte do conhecimento,
com a seiva da informação, foi uma solução encontrada, para matar a fome e a
sede em Acari/RN, e na vila de Gargalheiras. E agora a ação está respaldada,
com reconhecimento de uma utilidade educacional e cultural, para sair em busca
de novas empreitadas.
Muitos tons de cinzas foram vistos
pelas estradas, a caminho de uma barragem, com problemas de estiagem. Até a
última contabilização de alimentos arrecadados, já ultrapassavam os 400 Kg, um
indicativo que deveria ultrapassar a marca de meia tonelada (0,5 tons), até o
dia e a hora do embarque. Fato que foi comprovado.
Além de Adeus nas estradas dos
tijolos amarelos, outros livros e outros títulos chegaram para caminhar na mesma
estrada. Uma Vitor Hugo deixou as portas abertas para informações dos reservatórios
e dos recursos hídricos (SEMARH). Escritores e editores atenderam as chamadas
de letras e palavras, com livros de palavras, e chamadas de letras, com apenas
palavras, e seiva de palavras. Coleções de contos e de selos, filatelia e
livromanias.
E para surpresa de alguns, as
pedras em torno da barragem, tinha tons de amarelo, tal como os tijolos da
estrada, que davam início a ideia. Geógrafos e geólogos não diriam ser pedras,
mas rochas, cabem a eles as descrições das paisagens e dos solos. Enquanto
escritores podem descrever com outras palavras as mesmas imagens, pois pisaram
em outros solos.
Durante a última arrumação dos
alimentos arrecadados, que ocupavam o chão de uma sala, no fundo da conhecida
livraria, impedindo acomodações e deslocamentos, Thiago fez um breve relato de
sua história. Deu a entender que fez uma limpeza e uma reciclagem na sua
passagem pela empresa urbana, desviou-se de uma função para abrir portas e páginas
na Academia. E Acadêmicos embarcaram na mesma jornada.
Vans e divãs, poesias e
filatelias, prosas ou versos, abriram portas para acomodar personagens. Magos e
bruxas, espiritas e espiritualistas, embarcaram em uma van com suas filosofias.
Outros preferiram ir do lado de fora, acompanhando os que participavam da
excursão, mas em outra dimensão, no mundo invisível. Onofre também colocou o pé
na estrada, com seu bólido branquelo. Abrindo espaços de personagens para novos
lugares. Permitindo um trocadilho do on/off
com o Onofre.
Uma van partiu em direção a
Acari, com o objetivo de chegar a Gargalheiras, um grupo com alegrias e risos.
Uma van com gargalhadas e risadas, uma van com sarau e poesia a bordo, as pessoas
substantivas no plural. A multidiversidade estava presente, com diversidades de
cores e símbolos. Crenças e credos, naturalidades de outros estados e cidades,
todos radicados na mesma ideia; alimentos e livros, alimentos ou livros, e alimentos
são livros. Alimentos que nos livram do desconhecimento e do empobrecimento, do
corpo, da alma e da mente.
Chamada final, embarque
imediato no portão da livraria. Todos a bordo em direção a Acari, faltou o
Acaci. Diretores e personagens dos palcos e dos livros, Alberto e Dalberto estavam
embarcados. Entrevistados e entrevistadores também foram, uns desde o início
(Drica das Artes)[ii],
outros embarcaram no caminho (A Cruz e o Inharé)[iii].
Um breve relato histórico foi
encontrado pelo caminho. O caminho do descobrimento foi percorrido, com placas que
indicavam e apontavam direções: Nova Cruz, Santa Cruz e Vera Cruz, os nomes que
foram um dia denominados pelos portugueses, à Terra Brazilis. Cruzou-se as
terras dos antigos índios, os Caicós. Chegou homem branco deu o nome de Seridó.
Uma terra onde nos leva a esquecer o modelo mais conhecido de índios, os índios
das matas, e ali podemos ver um índio, imaginar um índio, com jeito de apache,
na terra seca e árida. Diriam os pesquisadores, estudiosos e sociólogos ser uma
imposição da ideia americana, achar que um índio brasileiro, poderia ser um
apache. Respeitemos suas linhas de pesquisas. Quem não sabe o que procura, não
identifica o que acha. Eles têm seus gráficos e teorias, baseados em outras
hipóteses e outros achados. E leram outros livros.
Outras terras indígenas foram
atravessadas, dos Macaíba e dos Parnamirim, e outras terras com traços de
civilização, como Serra Caiada ou Lages Pintadas. Uma boa viagem, com passagem
em Boa Saúde. Terras dos conquistadores das terras com Currais Novos. No relato
rodoviário asfaltado, a influência da igreja com São Paulo do Potengi e São
Pedro. A história e a geografia contadas pelos caminhos, caminhos que um dia
foram de terra e ocupados por tropeiros e suas juntas de caçuás. Juntas de
animais abriram os primeiros caminhos, que hoje estão cobertos pelo asfalto,
deixando histórias inscritas nas pistas. Segundo alguns pesquisadores, as
cruzes, com algumas pedras a volta, encontradas nas beiras das estradas unem
conhecimentos religiosos, de judeus e cristãos. Marcos de lembrança de um
acidente acontecido, com pedras substituindo as velas.
Lá longe e distante era
possível avistar aviões. Aeronaves em procedimentos, na descida da rampa em
direção a São Gonçalo do Amarante. Na terra ou no ar, para o N ou para o S uma
enormidade de informações. Em outros tempos buscava-se o deslocamento do Sol
para identificar direções, hoje é possível identificar pelas rotas dos aviões e
seus procedimentos de pouso e/ou decolagem, dependendo do vento.
A cidade brasileira, com
título de cidade mais limpa Acari/RN, tem problemas com a falta de água. E
Acari mostra uma nova dimensão, dá uma outra lição, que para ter uma cidade
limpa não é preciso de água, mas uma consciência de seus moradores e cidadãos.
A cidade não tem papel no chão, não tem lixo espalhado, e não tem muro pixado. Tem
duas igrejas preservadas, uma dos idos 1800 e outra dos idos 1700. Cidade de
Acari com o rio Acauã, a herança indígena.
Outra lição foi deixada por autores,
escritores, e os livros doados. A missão dos expedicionários e excursionistas. O
livro como uma fonte de conhecimento, sem ser preciso ou necessário ser um
livro, do seu autor preferido. Mas o livro em suas mãos, que com prosa ou
poesia, com verbetes ou dissertações, pode lhe oferecer uma nova versão, uma
outra visão. A versão ou visão de quem está de fora da uma situação. Visão de
quem tem uma outra vivencia e outras percepções, ainda que não tenha vivencias
de fome e falta de agua, e pode não ter a solução. Visões que junto com as
visões de quem está radicado, preso em uma cidade que tem um problema, possa
criar novas ideias, a partir de suas raízes, que crie novos frutos, novas
soluções ao que maltrata a sua terra, e seu chão, sob um jugo de um jogo político
e econômico, a valorização de um bem. Um bem que sempre foi livre e simples, o
uso e o abuso da água, abundante e natural. E agora circula engarrafada e
encanada, só usa quem paga.
Pelas estradas a diversidade
de cores e sabores, cheiros e aromas. O mato a beira das estradas, com cheiros
diferentes de noite ou de dia, e com certeza teria outro cheiro na madrugada. O
cheiro da represa sem agua, com garças espaçadas no regato de agua. O cheiro do
Sol abundante, com outro cheiro na sombra. Um conjunto de visões e informações.
A única oportunidade de
escolher entre cheiros, recheios e sabores foi no caminho da volta, com uma
parada na estrada. A velha desculpa ou a necessidade de um café, uma agua
fechada, mineral ou em WC, e estirar ou esticar as pernas. A fisiologia da circulação
do sangue, símbolo da vida; o arrefecimento do corpo, com agua e conforto, a
trocas dos líquidos corporais. Uma parada em uma pequena cidade dividida pelo
asfalto da estrada, mas famosa pelos pasteis de Tangará, o nome da cidade. Uma
lanchonete com uma estante de autores locais. O pastel de Tangará com recheios
locais, o café com ou sem leite; a coca ou a cerveja dos estrangeiros, e a
história do Seridó nas prateleiras. Um conjunto de saberes e sabores, locais,
regionais, estaduais, nacionais ou importados.
E como possivelmente, e
imaginável na mente, poderia dizer um matuto com seu radinho de pilha, o Thiago
é o cara e soube buscar soluções, fez parceria com o Onofre (On/Off), a representação da Academia. Soube
ligar em notícias na hora certa. A equipe também espera que tenha chegado a
tempo, e na hora certa, com alimentos e livros. A volta ficou como a lembrança
de um sonho depois de estar acordado. E a necessidade de sonhar outra vez,
levar alimentos e livros aos que vivem sempre acordados, com um olhar para o
céu, observando as nuvens. Nuvens que possam formar chuvas, a partir de seu
estado gasoso.
Ficou tudo como um sonho ou um
filme, que ao final desfilaria os créditos. Uma caravana, acompanhada e formada
de artistas e personagens hollywoodianos: Shirley Marques Lane; Zípora Carmona
e Lea Petry; ou épicos como De Cristo, e uma quantidade enorme de figurantes. Haveria
os créditos para filmagens e sonorização. Mas não valeria dizer que ela mora
perto do cemitério.
Os créditos de direção e
organização já foram citados. Uma equipe que levou uma enorme bagagem na mente,
e levou agua e alimentos, para que aqueles radicados em Acari, pudessem se
alimentar e beber, para que pudessem por mais tempo viver e aprender algo com
as novas mensagens.
Um pouco mais que 500 k (0,5
tons) de alimentos foram entregues. Cerca de doze horas (0,5 dia) formam
necessárias para ir e voltar. E quinhentos quilômetros foram rodados pela van
familiar.
Texto em 04/10/15
Ida a Acari em 03/10/15
Texto
disponível em:
Texto
relacionado:
Caravanas literárias
http://www.publikador.com/cultura/maracaja/2015/09/caravanas-literarias/
Nenhum comentário:
Postar um comentário